A caminho de Takitani 滝谷, no Japão, saindo da cidade de Shibata (Província de Niigata), ao deixar a área urbana, somos recebidos com muito verde, numa estrada estreita entre vales e montanhas nada exploradas. É uma exuberante área de floresta nativa com ar muito puro. Uma paisagem linda, revigorante e desestressante.
Logo, encontramos um túnel perdido no meio do caminho. Pelo tamanho, lembra um túnel para trens, bem no meio da estradinha. É uma via única e o semáforo nos indica que podemos seguir. Um semáforo no meio das montanhas, quem ou quantos transitam por aqui?
A Viagem de Chihiro
Quem se lembrar do Anime "A Viagem de Chihiro" do premiado diretor de animação do Estúdio Ghibli, Hayao Miyazaki, vai rememorar a cena da Chihiro e seus pais adentrando um túnel escuro perdido no meio das montanhas, uma passagem para um outro mundo... vamos entrar, também?!
Ao acostumarmos com a breve escuridão, notamos que é um túnel aberto, construído com uma maciça estrutura de concreto, provavelmente capaz de suportar uma montanha de avalanche de rochas e terra. E, certamente, é este o propósito. Há quanto tempo foi construído e por quanto tempo ainda existirá? São questões que ressoam nosso pensamento. Se não fosse a lateral aberta, a vista se perderia num fundo cada vez mais escuro, um arrepio percorre a nuca, sussurros tomam formas... estruturas de um tempo passado, nos traz pensamentos sombrios... o que nos espera à sombra?!
Seguimos em frente, um caminho tranquilo, apreciando a fauna e a flora, pontes e podemos avistar o Rio Kaji. De repente, surge um paredão de concreto. Uma arte abstrata, com curvas e linhas retorcidas, lembram um tecido cinzento amarrotado, ainda assim com um certo ordenamento.
Não é ilusão, a linhas estão tortas mesmo, propositalmente. Trabalho de um artista, certamente, mas, por que bem no meio das montanhas? Criar um contraste urbano em meio a tanta natureza nativa, concretar sua superfície como se precisasse de uma veste moderna, fria, um toque de urbanidade?
É uma obra colossal, muito concreto e estrutura armada, acompanhando a curvatura da superfície da montanha, de cada depressão, cada fresta, sulcos e proeminências foram encapadas, cimentadas. Mais à frente, percebemos que a obra ainda está em criação.
Andaimes ancorados no paredão rochoso da montanha revela como o artista trabalha, moldando as formas para compor sua obra; embora não vejamos como cada quadro foi composto, podemos supor o uso de um molde flexível. Quantas pessoas estão trabalhando? Quanto tempo levaram...
Os andaimes são metálicos e lembram peças de montar, bem amarrados e sinalizados. No Japão, o trabalho é feito com seriedade e prevenção. Ainda assim, persiste a questão da obra em meio à natureza. Quem serão os visitantes?
Percebemos afinal, que são artistas no que fazem e é uma arte descomunal para evitar acidentes.
É o artista engenheiro ajudando a natureza. São contenções feitas nas paredes das montanhas rochosas para prevenir a queda de fragmentos, como pode ser visto no isolamento na foto abaixo.
E assim funciona o Japão. Trabalhando com prevenção, evitam-se incidentes de maior amplitude, mesmo numa região montanhosa e isolada como é esta estrada para Takitani.
Nossa viagem termina aqui, com a vista da Represa do Parque Kajikawa (Rio Kaji). Apreciamos suas águas em um cenário de natureza viva e integrada com as necessidades da sociedade humana.
Rio acima, ainda existe uma segunda represa (ou a primeira), e esta estrada simples, numa verdejante cadeia de montanhas serve justamente para o acesso às represas. Assim contidas, as águas do Rio Kaji servem para o consumo e para a geração de energia elétrica limpa.
Você já parou para pensar que o Japão, um país tão pequeno (equivalente ao Estado do Goiás) e ainda com 60% de sua área com montanhas, como faz a captação de água e de energia elétrica?
Uma arquitetura moderna no meio da floresta e montanhas, uma estrutura com finalidade preventiva tal qual os maciços de concreto do antigo túnel com semáforo. O Japão preservando o presente, pensando no bem estar futuro.
Integrando estruturas urbanas com a natureza, podemos conviver e preservar, uma simbiose essencial para um país insular como o Japão.