Antes de tudo, vamos deixar claro que este texto não é propaganda, nem é patrocinado por nenhuma companhia aérea. Não vamos falar também de comodidades da aeronave nem de refeições. O objetivo aqui é analisar algumas das principais rotas que ligam o Brasil ao Japão, beleza? Dito isso, vamos lá.
A maioria das pessoas já deve imaginar, mas, de início, é bom clarificar uma coisinha: não existe voo direto entre cidades brasileiras e a Ásia. Diz-se que o trajeto já é mais ou menos viável tecnologicamente e que, neste momento, o maior desafio é comercial. Uma companhia aérea australiana tem realizado testes para ver como a aeronave, a tripulação e os passageiros se comportam em rotas ultralongas como Tóquio - São Paulo, por exemplo. Os voos de teste têm sido realizados entre Sydney e Nova Iorque ou Londres. São cerca de 20 horas dentro da aeronave. Particularmente, para mim, uma tortura.

Bem, essa historinha é só para apontar que, ainda que as companhias aéreas considerem realizar voos de longuíssima duração, todas as opções entre grandes capitais brasileiras e Tóquio passam, no momento, por uma parada em algum destino fora do Brasil. Cidades americanas, europeias e o Oriente Médio são as opções mais populares, com Etiópia, México e Turquia correndo por fora. Vou apresentar aqui três fatores que você deve considerar antes de escolher o seu voo para o Japão.
O bolso
De um modo geral, a primeira coisa que a maioria de nós, mortais, considera numa viagem é o custo. Viajar para o Japão não é nada barato e, por isso, economizar em alguns itens é sempre bem-vindo. Sabe aqueles buscadores de tarifa aérea que classificam as passagens por preço e outros quesitos? Então, usei um deles no momento em que estava escrevendo esse texto e confirmei que os 50 voos mais em conta envolviam uma companhia americana e conexão nos Estados Unidos. Eram mais até, mas cansei de contar. A primeira opção de conexão fora da América vinha muito mais abaixo. A diferença entre a menor tarifa (via Estados Unidos) e o voo mais barato com conexão em outro lugar era de quase 400 dólares americanos! Esse resultado não é pontual nem aleatório. Passar pelos Estados Unidos é mais barato por alguns fatores.
os 50 voos mais em conta envolviam uma companhia americana e conexão nos Estados Unidos

Um dos motivos pelos quais as conexões existem é a possibilidade de transportar passageiros com destinos diferentes numa mesma aeronave. A companhia coleta, em vários lugares, todo mundo que está viajando para locais menos procurados e leva essa gente para um “hub”, onde o povo é embarcado em voos para seus destinos finais. Essa estratégia evita a saída de um monte de avião com meia dúzia de gatos pingados e barateia o preço final das passagens, mesmo para destinos não muito populares. Sendo assim, quando você embarca num voo para Tóquio partindo de São Paulo corre o risco de conhecer gente indo para a China, Singapura, Coreia do Sul, Índia, Hong Kong, além, claro, daquele pessoal que vai ficar nos Estados Unidos. E como a terra do hambúrguer é um destino popular entre os brasileiros, há mais voos e mais companhias aéreas explorando as rotas, aumentando a competição e diminuindo o preço da passagem, inclusive para quem só usa o país como hub.
Sendo assim, por que, então, alguém consideraria outra conexão que não os Estados Unidos? Por vários fatores. Um deles é a exigência de visto, mesmo para quem está só de passagem. Todo o processo de tirar a autorização de entrada nos Estados Unidos é tão cansativo e caro que muita gente a evita.
Outra questão é que, apesar do preço inicial das viagens pela Terra do Tio Sam ser mais baixo, nem sempre o cálculo final é favorável às companhias americanas. Isso também tem a ver com concorrência. Empresas de outras regiões do mundo estão cientes das vantagens competitivas dos americanos e, por isso, contra atacam com promoções. E esses descontos dificilmente aparecem nos buscadores porque eles são oferecidos em parceria com agências especializadas. E como funciona isso?
Aqui entra um fator que faz a viagem para o Japão ser interessante para quem está no Brasil, em comparação com outros países da América do Sul. A grande colônia japonesa que existe no país — que deu origem à colônia brasileira que vive lá do outro lado — faz com que existam companhias dedicadas à venda de passagens aéreas ligando os dois países. Alfainter, HIS Brasil, Tunibra são algumas delas. Portanto, pesquise. Pedir um orçamento nestas empresas pode trazer boas surpresas até mesmo em rotas via Estados Unidos.
A paradinha
optei por uma companhia aérea apenas para fazer stop over em Dubai
Outra coisa a se considerar ao voar para o Japão é o local de conexão. Muita gente aproveita essa paradinha para conhecer um novo destino. Na linguagem da aviação isso se chama “stop over”. Numa das vezes em que vim ao Brasil, optei por uma companhia aérea apenas para fazer stop over em Dubai.
Você pode fazer o mesmo em vários destinos. Na Europa, é possível embarcar em voos que fazem conexão em Amsterdã, Roma, Zurique, Frankfurt e Istambul. Nesta lista, Adis-abeba é o aeroporto de destaque na África. Los Angeles, Nova Iorque e Cidade do México são algumas das paradas possíveis nas Américas. Dubai, Abu Dhabi e Doha representam a Ásia nesta lista. Todas as localidades são interessantes e com potencial para uma esticadinha antes ou depois da viagem ao Japão.
Mas atente para um detalhe: o stop over não está incluso no valor das passagens. Ele é um extra e cada companhia tem sua política de preços neste sentido. Algumas incentivam a paradinha, criando preços bacanas para quem quer ficar alguns dias no meio do caminho. Outras cobram mais caro justamente para evitar o “problema” de ter um voo fora do padrão. Portanto, pesquise bem antes de optar pelo serviço.
Chegadas e partidas
Existe um quesito que ainda é pouco considerado por quem voa para o Japão: os aeroportos de chegada e de partida. O motivo é simples: mesmo viajantes experientes desconhecem que é possível chegar ao Japão por uma região do país e voltar por outra. Vamos entender melhor como funciona.

São quatro os principais aeroportos japoneses usados por turistas do Brasil: Narita (NRT) e Haneda (HND) que atendem a Tóquio; Kansai (KIX), que se conecta a Osaka; e Chubu, que fica próximo a Nagóia, uma das regiões que concentra a comunidade brasileira no país e, por isso, o aeroporto mais conveniente para quem visita a família que reside no Japão. Com tantas opções, como escolher? Segue na linha.
De um modo geral, um bom roteiro pela Terra do Sol Nascente engloba o que no país se chama de “Rota de Ouro”.
Começa (ou termina) em Tóquio, passa pelo Monte Fuji, Kyoto, Osaka e vai até Hiroshima (em destaque no mapa acima). Isso quer dizer que viajantes vão percorrer o país numa linha quase reta, no sentido leste - oeste, tendo numa ponta dois aeroportos e na metade do caminho outros dois. Nada mais óbvio, portanto, que iniciar a viagem numa ponta e terminar na outra, correto? Sim, mas acontece que a grande maioria das pessoas acaba optando por entrar e sair pelo mesmo aeroporto, em geral em Tóquio, perdendo praticamente um dia de passeio somente para estar próximo do local de embarque. Desnecessário, não é mesmo?
Por isso, tenho sugerido às pessoas que atendo como guia que procurem chegadas por Tóquio e partidas por Osaka (ou vice-versa).
Assim, é possível explorar de forma mais inteligente a Rota de Ouro, fazendo boa parte do caminho numa única direção, sem idas e vindas desnecessárias.
Neste caso, também, é possível que a passagem seja um pouco mais cara do que a convencional. Mas quem opta por essa rota não se arrepende. Até mesmo porque o fator preço pode ser compensado se você considerar que, caso não tenha comprado o “JR Pass”, existe ainda o custo do trem-bala para retornar para a cidade de embarque. Então, pode até ser que, na conta final, ainda saia mais barato fazer uma rota com aeroportos diferentes na entrada e na saída.
Bem, por hoje é isso. E já que falei no JR Pass, ele é um passe que pode baratear muito sua viagem pela Terra do Sol Nascente e foi assunto de uma das colunas anteriores (Como fazer viagens entre cidades no Japão?). Leia os demais textos nos links abaixo e tenho certeza de que neles falo de outras questões importantes para a sua viagem. Também te convido para me seguir no Instagram (@robertomaxwell). Lá dou dicas super quentes sobre o Japão. Espero você. Até mais!
Saiba mais
Como fazer viagens entre cidades no Japão?
Coluna Viagem ao Japão
Roberto Maxwell é jornalista e, atualmente, trabalha como consultor de projetos e acompanhante de viagens no Japão. Você pode conhecer melhor o seu trabalho no site www.tabiji.co e no Instagram @robertomaxwell.